era uma menina que mudava tanto de ser e de emoções que começou a escrever cartas para as outras que eram ela mesma. pois uma noite sofria de chorar e acelerar o coração pensando na morte e na outra manhã já estava lá, que coisa obscena, comendo pão com margarina como se nada tivesse acontecido.
precisava sentir um mínimo de dignidade por si mesma e por seu sofrimento, então resolveu escrever, mas não compreendia seus próprios escritos. aquela que trabalhava como burocrata num escritório das 9h às 18h não entendia o bilhete torto que a bêbada rabiscara num guardanapo de bar durante a madrugada; a depravada bissexual sadomasoquista voyeur que tinha sonhos eróticos com o entregador de gás não via sentido no juramento de fidelidade da namorada comportada; a acadêmica estudiosa
achava pura bobagem o instante intenso de suspiro poético da romântica, e assim por diante, num alternar de gentes tão grande que era quase esquizofrenia. QUASE. ela só precisava aprender
que quando esse quase existe, é sinal de que está tudo bem. porque ser sempre do mesmo jeito geralmente é ser chato, e ser muitos ao mesmo tempo geralmente é ser louco. moral da história: sutil é o limite entre o tédio e o choque elétrico em franco da rocha.
(ana p.)
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4 pensaram:
Nossa multiplicidade é o que nos define, afinal. Escrevi algo parecido no meu último post, até! Eu "acharam" engraçado essa coincidência!
Adorei"
"ser sempre do mesmo jeito geralmente é ser chato, e ser muitos ao mesmo tempo geralmente é ser louco"
Bjs
Ah que bom! QUASE me preocupei...
rsrs
Mais comum que a gente pensa. Muito bom.
Bjs,Karol.
Adorei, queridinha!!!!
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