domingo, novembro 09, 2008

é incrível encontrar pessoas na rua. rostos desconhecidos, quase sempre infinitamente sérios e desafiadores. algumas pessoas simplesmente olham pro chão e pensam sobre a vida, sobre as pessoas que conhecem, sobre o trabalho ou sobre o que ocorre em seus corações quentes, que estão ardendo, mas que ninguém sente. ninguém sente o calor alheio. andando apressados, olhando nos relógios. Sempre algo na cabeça fervendo, alguma coisa viva e pulsante. no entanto, acordamos e olhamos pela janela fria, não conseguimos nem sentir os pingos de orvalho escorrendo no vidro, como notas musicais descendentes, assim que o sol dá as caras. levam oito minutos para que a luz do sol saia dele e alcance nossos olhos. quanto tempo leva para vermos alguém? poucos segundos, poucos segundos. E com a generosa viajante luz do sol, que deposita suas malas em nossas faces, pouco nos importamos em perceber as feições e/ou expressões dos outros. nosso umbiguismo não deixa; o que importa mesmo é o que estou sentindo, é o que atravessa a muralha de carne, é o que ninguém vê ou ouve. o que importa mesmo é o que o ar não toca, o que importa mesmo é a sensação de estar sozinho vendo aquelas coisas todas, tão longes. E o que é distância, mesmo? a quilometragem dos olhares que nunca chegam à nossa retina. Quantos universos paralelos existem, quantas coisas acontecem? We need more trees, not more Bushes. isso me lembra que existem seres que acabaram de nascer e serem concebidos, isso me lembra que acabou de acontecer uma coincidência com alguém, isso me lembra que um ponto ínfimo no universo caiu na gargalhada sem que ninguém estivesse por perto. isso me lembra que pessoas choram no escuro, onde o sol não é bem vindo. isso me lembra que tudo pode ser explodido e vaporizado, na abominável pureza de retornar ao pó. e eu, que me achava tão íntegra e sólida, tão inatingível e dura. eu que me achava a culpada do fruto, eu que me achava até então, de carne e osso.

2 pensaram:

Anônimo disse...

Caramba, hein!
Que ótimo isso!

Carol disse...

Uau! Adorei como sempre!
Acho que já virou clichê dizer isso, mas é apura verdade.
Adoro todos seus post.